POSSESSÃO ANIMAL - Conto Clássico de Horror - Casimir Puichaud
POSSESSÃO ANIMAL
Casimir Puichaud
(1853 – 19...?)
Certos
animais são possuídos pelo diabo em determinadas épocas.
Na
noite do Carnaval, os gatos se reúnem no Ormeau Robinet, um cruzamento mais
conhecido pelo nome de Timbre aux Chats, porque há um timbre,
ou seja, um cocho, neste local, para o uso dos gatos. É feito de granito.
L'Ormeau Robinet está no cruzamento, sobre a rota de Chapelle-Saint-Laurent em
Moncoutant, da antiga estrada para Pugny e da estrada oposta, que se perde campo
adentro.
Na
noite de Carnaval, o timbre dos gato — um presente dado pelo diabo — é
usado pelo demo para seus festins diabólicos. Cada um dos felinos da região ali
deposita a comida que conseguira roubar de seus donos. Um gnomo fornece o resto
do banquete. Durante toda a noite, o ar treme com seus miados sinistros e o som
de seu mastigado. Ai de quem os perturbasse: num piscar de olhos, suas garras
afiadas rasgariam o incauto e seus dentes afiados o devorariam!
Muitos
agricultores, cuja cobiça fora despertada pelo timbre, levaram-no para
casa. Mas tiveram que devolvê-lo. Enquanto o mantiveram, a sua casa estaria
assombrada. Animais desconhecidos rondavam a vivenda, impedindo, com
assustadores gritos, os seus exaustos moradores de recobrarem as suas forças
com um sono restaurador. Durante o dia, os animais perturbavam a faina
cotidiana, devastando as plantações e emporcalhando a relva nos prados. Animais
domésticos morriam de uma misteriosa doença. A ruína se acercava rapidamente.
Diante desta maldição, o culpado devolvia o timbre ao seu lugar de
origem e reavia a tranquilidade perdida. O gado prosperava, os prados verdes cobriam-se
com a relva verde e exuberante, e as colheitas carregavam-se maravilhosamente
do grão da vida. A fazenda voltava à ventura dos velhos tempos. De tempos em
tempos, o maligno a visitava, mas sem causar danos às coisas e às pessoas,
contentando-se em vagar por aí, espreitando pelas janelas.
Um
velho amigo meu via, todas as noites, há cerca de uma semana, animal fantástico
circulando pela casa, dela saindo quando um habitante a deixava, para retornar
quando ele voltasse.
Numa
vigília, à qual comparecera um dos vizinhos de meu amigo, decidiram matar o
animal com o emprego de uma espingarda, que estava pendurada na chaminé. Era uma
velha arma, usada durante a Guerra da Vendeia, e que fora instrumento e
testemunha de ilustres epopeias. Eles a carregaram com uma bala embebida em
água benta. Complacentemente, o vizinho se preparou para dar o tiro. Então,
tomou o rifle e, com a porta entreaberta, fez a mira contra o animal, que
permanecia sentado, a vinte passos da feixe luminoso da abertura. A pólvora
eclodiu, um breve brilho rasgou o espaço e a fera estava morta. Saímos com lanternas
para contemplá-lo. O atirador havia matado o seu próprio cão. A bala o atingiu
no cérebro, estraçalhando-lhe o crânio.
Um
porco gordo havia sido morto naquela casa. Todas as noites, desde então, o cão aparecia
para recolher os ossos. Morreu vítima da própria gula. Lamentou aquela morte o
próprio dono, que, se não era destituído de medo, não o censurou... pelos
outros.
Fonte: “La Tradition en Poitou et Charentes. Art populaire,
ethnographie, folklore, hagiographie, histoire”.
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