A DAMA BRANCA - Conto Clássico Sobrenatrual - James G. Kinna


A DAMA BRANCA

James G. Kinna

(c. 1864 – 1911)

Tradução de Paulo Soriano

 

Agradavelmente situado na margem leste do Cree, a cerca de um quilômetro da cidade, o castelo Machermore é uma visão proeminente na paisagem, que se abre aos olhos do viajante, à medida que o trem, vindo do Sul, se aproxima de Newton-Stewart.

Por quase trezentos anos, o velho castelo cinzento de Machermore resistiu bravamente às tempestades, e teria continuado incólume se, recentemente, os tempos modernos não exigissem mudanças estruturais. O castelo agora exibe um feliz exemplo da mistura do antigo e dos novos estilos arquitetônicos, uma adaptação do passado às atuais exigências.

É curioso que, embora certos locais próximos ao castelo de Machermore sempre tenham sido associados ao nome da Dama Branca, ninguém jamais viu a misteriosa entidade. No entanto, são poucos os residentes mais velhos da freguesia de Minnigaff que não ouviram os seus avós falarem dela como uma palpável realidade.

Acredita-se que o castelo Machermore tenha sido construído no final do século XVI. Diz a tradição que, num primeiro momento, se pretendia erigir castelo em terreno mais alto, um pouco a nordeste do local atual, mas que, durante a noite, as pedras fundamentais eram sempre retiradas, e, assim, o que se erguia durante o dia era levado por mãos invisíveis e depositado em outro lugar. Como era vão o esforço de lutar contra o sobrenatural, o castelo acabou sendo construído onde os materiais eram sempre encontrados pela manhã.

No próprio castelo havia uma sala que se dizia ser mal-assombrada. Nesse caso, o cômodo em particular ficava no ângulo noroeste e era sempre conhecido como o quarto de Duncan. Projetando-se do canto superior da parede externa, situada no mesmo rincão do castelo, havia a imagem de um homem finamente esculpida. Uma inspeção mais detalhada revelava o fato de que o pescoço da estátua era circundado por um babado de renda, do período Tudor, primorosamente cinzelado. Essa peça de escultura sempre foi conhecida como a cabeça de Duncan. No chão do quarto de Duncan havia a marca de uma mão ensanguentada, que exibia claramente a impressão dos dedos, polegar e palma. Dizia-se que tentaram remover aquela parte do piso, para erradicar todos os vestígios da tragédia passada, mas a marca da mão ensanguentada apareceu na nova madeira, tão fresca quanto antes. Da história de Machermore, pelo menos, esta lenda é inefável, e os anais da paróquia de Minnigaff são incompletos, e não contêm qualquer referência a este fenômeno notável.

Muitos anos se passaram desde que ocorreu o incidente que estou prestes a relatar, mas as circunstâncias estão tão frescas em minha memória que é como se os fatos tivessem acontecido na noite passada. Nem é provável que eu esqueça minha primeira e única visita da Senhora Branca. Naquela ocasião, por acaso, eu era o único ocupante do quarto de Duncan; como, porém, o uso acabou com todos os preconceitos contra a ocupação daquele quarto entre os membros da casa, pouca ou nenhuma importância atribuía-se à crença geral de que o quarto era assombrado.

Era uma noite de verão, e eu estava dormindo, mas tinha acordado, e me pergunteu que horas seriam. Então, num dos patamares soou meia-noite. Quando a última badalada feneceu, ouvi claramente passos subindo as escadas. 

Como tudo estava absolutamente quieto no castelo àquela hora, eu podia distinguir o mínimo ruído. Cada vez mais perto da porta de meu quarto aproximava-se o visitante da meia-noite, até que pareceu entrar. E, embora a sala estivesse inundada pelo luar, não vi ninguém entrando. Eu estava, todavia, perfeitamente consciente de que alguma presença misteriosa se achegava a mim. Eu não estava nem um pouco assustado na ocasião. Embora totalmente acordado, não conseguia ver nada. Um som peculiar, parecido com o abrir e fechar de uma rígida gaveta, vinha agora do canto da sala onde estava a marca da mão ensanguentada. Então me sentei na cama e gritei:

— Quem está aí? o que você quer?

Não obtive, contudo, qualquer resposta. 

Depois disso, devo confessar que senti um certo desconforto, um estado que evoluiu a um medo palpável, como em resposta a um farfalhar de um vestido de seda a elevar-se no quarto. Todo esse tempo a porta permanecera fechada. Nada, portanto, dotado de um corpo material, poderia ter entrado ou saído da sala sem que sua entrada ou saída fosse notada. E, embora eu olhasse na direção de onde procedia o som em movimento, eu nada via. Foi com uma sensação de alívio que ouvi, com a respiração suspensa e o coração palpitante, os passos em retirada, enquanto eles desciam lentamente as escadas e gradualmente morriam à distância. E tudo ficou em silêncio novamente e... eis aqui o mistério.


 

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