A MARCA DO FANTASMA - Narrativa Clássica Sobrenatural - Lady Betty Cobbe
A MARCA DO
FANTASMA
Lady Betty Cobbe[1]
(1735-1792)
Tradução de Paulo Soriano
No mês de outubro de 1693,
Sir Tristram e Lady Beresford foram visitar sua irmã, Lady Macgill, em Gill
Hall, hoje residência de Lorde Clanwilliam.
Certa manhã, Sir Tristram
levantou-se cedo, deixando Lady Beresford dormindo, e saiu para uma caminhada
antes do desjejum. Quando sua esposa se
juntou à mesa muito tarde, sua aparência e suas maneiras embaraçadas atraíram a
atenção de todos, especialmente a de seu marido.
Ele, ansiosamente, fez
perguntas obre sua saúde e perguntou-lhe, reservadamente, o que havia
acontecido com seu pulso, que estava envolvido por uma fita preta bem amarrada
em volta dele.
Ela, sinceramente, rogou-lhe que nada mais indagasse naquele momento, ou depois,
quanto ao motivo de ela usar a fita no pulso — e passar a usá-la doravante —, "pois",
acrescentou ela, "você nunca me verá sem ela."
Ele respondeu:
—Já que você insiste com
tanta veemência, prometo que não mais farei perguntas sobre isto.
Depois de terminar seu
rápido café da manhã, ela perguntou se o correio já havia chegado. Disseram-lhe
que não.
— Por que você está tão
ansiosa por cartas hoje? — perguntou Sir Tristram.
— Porque espero notícias
sobre a morte de Lorde Tyrone, que aconteceu na terça-feira.
— Bem — observou Sir
Tristram —, eu nunca a tive como uma pessoa supersticiosa, mas suponho que
algum sonho inútil a tenha perturbado.
Pouco depois, o criado
trouxe as cartas. Dentre elas, uma havia sido selada com cera preta.
— É como eu esperava — gritou
ela. — Ele está morto!
A carta, enviada pelo
mordomo de Lorde Tyrone, era para informá-los de que seu senhor morrera em
Dublim, na terça-feira, 14 de outubro, às 16h.
Sir Tristram se esforçou para consolá-la e
implorou que contivesse sua dor. Ela lhe garantiu que se sentia aliviada e mais
leve, agora que tinha ciência da realidade dos fatos.
— Agora eu posso lhe dar uma
notícia mais alegre: estou grávida e será um menino — ela acresceu.
Um menino nasceu em
julho seguinte.
No seu quadragésimo sétimo
aniversário, Lady Beresford chamou os filhos e disse-lhes:
—Tenho algo de grande
importância para comunicar a vocês, meus queridos filhos, antes de
morrer. Vocês não são estranhos à intimidade e afeição que havia, desde a infância,
entre mim e Lorde Tyrone. Tínhamos feito uma promessa solene um ao outro: quem morresse
primeiro deveria, em lhe sendo permitido, aparecer ao outro.
“Uma noite, anos depois
dessa troca de promessas, eu estava dormindo com seu pai em Gill Hall, quando
de repente acordei e vi nitidamente Lord Tyrone sentado ao lado da
cama. Gritei e tentei em vão despertar Sir Tristram.
—Diga-me — disse eu — Lorde Tyrone,
por que está aqui a esta hora da noite?
— Então você se esqueceu de
nossas promessas recíprocas, feita no limiar de nossa vidas? Eu morri na
terça, às 4 horas. Foi-me permitido aparecer assim. Também me foi
permitido informá-la de que você está grávida e terá um filho, que se casará
com uma herdeira. Que Sir Tristram não viverá muito; que você se casará
novamente e morrerá em seu quadragésimo sétimo ano.
Implorei-lhe algum sinal ou
prova convincente para que, ao amanhecer, pudesse certificar-me do acontecido e
que tudo não passara do fantasma da minha imaginação.
Ele fez com que as cortinas
da cama fossem puxadas de uma forma singular e impraticável, através de um
gancho de ferro. Como eu ainda não estava satisfeita, ele deixou a sua
assinatura em minha caderneta. Eu queria, no entanto, uma prova mais
substancial de sua visita. Foi então quando ele pôs sua mão, que estava fria
como mármore, em meu pulso. Os meus tendões encolheram e os meus nervos murcharam
ao toque.
—Agora — disse ele, não
deixe nenhum olho mortal, enquanto você viver, ver o seu pulso.
E desapareceu.
Enquanto eu conversava com
ele, meus pensamentos permaneciam tranquilos, mas, assim que ele desapareceu,
senti um calafrio de horror e consternação. Um suor frio tomou conta de mim e
novamente me esforcei, mas em vão, para despertar Sir Tristram. Uma torrente de
lágrimas veio para meu alívio e adormeci...”
Naquele ano, Lady Beresford
morreu. Em seu leito de morte, Lady Riverson desamarrou a fita preta e
encontrou o pulso exatamente como Lady Beresford o havia descrito: todos os
nervos haviam murchado e todos os tendões haviam encolhido.
Comentários
Postar um comentário