A FADA DO BOSQUE - Narrativa Clássica Sobrenatural - Walter Map
A FADA DO BOSQUE
Walter Map
(1130 – c. 1210)
Conta-se
uma história semelhante sobre Edric Wilde, chamado "homem das florestas",
conhecido pela sua força física e pela sua graciosidade de discurso e de
trabalho. Era ele o senhor do feudo de North Ledbury.
Certa
noite, quando regressava tarde da caça, acompanhado apenas por um valete,
perdeu-se.
Por
volta da meia-noite, vagando à procura do caminho de volta, deparou-se com uma
grande casa à beira de um bosque. Era uma espécie de casa que os ingleses têm,
em cada paróquia, para beber, a que chamam, na sua língua, "casa da guilda".
Quando se aproximou, atraído por uma luz que a casa irradiava, vislumbrou, em
seu interior, reunidas, mulheres elegantemente vestidas com roupas do mais fino
linho.
Edric
viu que as circunstantes eram mais altas e mais imponentes do que as nossas
mulheres. Elas se moviam com gestos aéreos e agradáveis, e suas falas eram silenciosas.
O som de suas vozes era melodioso — conquanto débeis — e ele não conseguia entendê-las.
O
cavaleiro, então, reparou numa delas, cuja beleza excedia em muito a das
outras. Era mais desejável do que as amantes de reis. Ao vê-la, o cavaleiro feriu-se
no coração. Edric tinha ouvido falar das andanças dos espíritos, dos bandos de
dríades e de espectros, e das legiões de demônios que aparecem à noite, os
quais, só de serem vistos, trazem a morte ao espectador. Ouvira ainda falar da
vingança infligida por divindades ofendidas àqueles que as atacavam de súbito.
Também ouvira falar de como aquelas mulheres se mantinham castas e puras, como
habitavam secretamente lugares desconhecidos dos homens e como abominavam aqueles
que tentavam explorar os seus domínios. Tinha ouvido falar da vingança a que se
lançavam e dos homens que tinham sido por elas castigados. Mas o Cupido é cego
e Edric olvidou o perigo daquela companhia fantasmagórica. Contornou a casa e, achando
uma entrada, precipitou-se e apoderou-se da dama que desejava.
As
demais lançaram-se em resistência, tentando retê-lo, mas ele, com grande
esforço e auxílio do valete, conseguiu escapar. Embora tivesse nos pés e
canelas as marcas dos dentes e das unhas das outras mulheres, levou consigo a
dama da sua preferência.
Durante
três dias e três noites, obteve dela o prazer, mas, durante todo esse tempo,
não conseguiu arrancar-lhe uma palavra sequer, embora ela se submetesse
passivamente ao seu amor.
Finalmente,
no quarto dia, ela disse:
—Meu
querido, estarás seguro e alegre, e prosperarás até o momento em que me repreenderes
por causa das minhas irmãs, de quem me furtaste, ou por causa da floresta de
onde me tiraste. A partir desse momento, a vossa felicidade desaparecerá.
Depois de me teres perdido, sofrerás muitas outras perdas e morrerás precocemente.
Edric
prometeu ser firme e fiel no seu amor.
Reuniu
os mais nobres dos seus compatriotas, próximos e distantes, e, na presença de
uma grande multidão, casou-se solenemente com a dama.
Reinava,
então, Guilherme, o Bastardo, recém-coroado rei da Inglaterra. E o monarca, ao
saber desta maravilha, e desejando conferir a sua veracidade, convocou marido e
mulher à sua corte em Londres. Eles levaram consigo muitas testemunhas, e,
também, o depoimento de outras pessoas que não puderam estar presentes. Mas a
própria mulher, de cuja inédita beleza jamais se ouvira falar, foi a principal
prova de sua natureza: a de fada. Em meio do espanto geral, Edric e a sua
mulher voltaram para casa.
Passados
muitos anos, aconteceu que Edric, ao regressar de uma caçada, já tarde da
noite, não encontrando em casa a esposa, chamou-a. Quando, depois de algum
tempo, a mulher retornou, Edric olhou-a furiosamente e disse:
—As
tuas irmãs estavam contigo?
O
restante de suas palavras foi dita para o vazio, porque ela desapareceu à
menção da palavra "irmãs".
Edric
se arrependeu de seu grave erro e correu ao lugar onde a tinha capturado.
Todavia, apesar de todo o seu pranto e lamento, não conseguiu reconquistá-la. Em
voz alta, chorava dia e noite, e os seus dias se passaram numa tristeza sem
fim.
Versão em português de
Paulo Soriano.
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