A BOLA DE FOGO - Conto Fantástico - Anônimo Chinês


 

A BOLA DE FOGO

(Anônimo chinês)

 

Era uma vez um agricultor — um homem jovem e forte — que retornava tarde da feira.  Seu caminho o levou aos jardins de um rico senhor, nos quais se viam altas construções.

De repente, viu que, nos jardins, algo brilhante flutuava. Era uma bola de cristal. Surpreso, e vendo que não havia ninguém na redondeza, escalou o muro que circundava os jardins. Vislumbrou, apenas, à distância, algo semelhante a um cão, que olhava para a Lua. E, sempre que o animal expirava, uma bola de fogo saía-lhe da boca e subia à Lua. E, sempre que inspirava, a bola descia, e ele a apanhava em suas mandíbulas. E assim o fazia continuamente.

Então, o agricultor percebeu que o animal era uma raposa a preparar o elixir da vida.  O jovem escondeu-se na relva e esperou até que a bola de fogo descesse novamente, mais ou menos à altura de sua cabeça. Saiu, pois, pressurosamente de seu esconderijo, apanhou a bola e engoliu-a imediatamente. Podia senti-la brilhar, enquanto descia pela garganta e lhe chegava ao estômago. Ao ver o que acontecera, a raposa enfureceu-se. Fitou furiosamente o agricultor, mas, temendo a sua força, não ousou atacá-lo. Irada, a raposa seguiu adiante.

A partir de então, o jovem agricultor podia tornar-se invisível, ver fantasmas e demônios, e conectar-se ao mundo espiritual. Em casos de doença, quando inconscientes os pacientes, tinha a virtude de chamar de volta suas almas; e se alguém houvesse cometido um pecado, tinha a faculdade de interceder em seu benefício. Tal dádiva rendeu-lhe considerável fortuna.

Quando chegou aos cinquenta anos, afastou-se de tudo e deixou de praticar aquelas artes mágicas. Numa noite de verão, estava ele sentado em seu pátio, aproveitando a frescura do ar. Lá, saboreou diversa taças de vinho e, por volta da meia-noite, adormeceu profundamente. Acordou repentinamente, sentindo-se mal. Parecia que alguém lhe dava tapinhas nas costas e, antes que percebesse, a bola de fogo saltou de sua garganta. Imediatamente, uma pata o atingiu e uma voz lhe disse:

— Você, por trinta longos anos, manteve escondido — longe de mim — o meu tesouro. De um pobre agricultor, tornou-se um homem rico. Agora, você já tem o suficiente. Quanto a mim, gostaria de reaver a minha bola de fogo!

Então homem inteirou-se do que lhe havia acontecido. A raposa, contudo, havia desaparecido.

 

Versão em português de Paulo Soriano a partir da tradução de Fredrick H. Martens (1874 – 1932).

 


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