A RAINHA QUE SAIU DO MAR - Conto Clássico Fantástico - Sílvio Romero
A RAINHA QUE
SAIU DO MAR
Sílvio Romero
(1851 – 1914)
Houve
um rei que desejava se casar com a moça mais bonita que houvesse no seu reino.
Já se tinham corrido todas as casas, e chamado todos os pais de família para
apresentarem suas filhas, e nenhuma tinha agradado ao rei.
Fazia
oito dias que tinha assentado praça um recruta abobado num batalhão, e neste
dia tinham de ser apresentadas as filhas de um lavrador, que eram as únicas
moças que o rei ainda não tinha visto, e neste dia tinham de ir à missa os
batalhões.
Logo
que entrou na igreja o batalhão em que tinha assentado praça o tal abobado,
pôs-se este a chorar, o que vendo o comandante do batalhão lhe perguntou o que
tinha. Respondeu ele que “nada sofria, mas que tendo visto aquela imagem
(apontando para uma imagem muito formosa que havia na igreja) tinha ficado com
saudades de sua irmã, que muito se parecia com aquela santa.”
Ficaram
todos duvidosos e zombando do pobre soldado; mas chegando aquilo aos ouvidos do
rei, este mandou chamar o rapaz e lhe indagou da verdade, ao que ele respondeu
ser exato ter uma irmã muito formosa e parecida com a imagem que havia na
igreja.
Perguntando
o rei onde morava ela, respondeu: “Nas gargantas do Monte Escarpado, a dez mil
léguas por terra e cinco mil por mar.”
O
rei mandou logo preparar uma esquadra e enviar uma delegação ao pai daquela
moça, pedindo-a em casamento. O recruta também foi com a comissão.
Logo
que chegaram ao Monte Escarpado avistaram a moça na janela e ficaram todos
embasbacados ao ver tanta beleza junta.
A
velha, que era um desmancha-prazeres, indagou para onde iam e de onde vinham, e
sabendo de tudo convidou a moça para ir dar um passeio pela horta e lá atirou com
ela dentro de um poço.
Ora
já sendo de noite, quando tiveram os da esquadra de embarcar não deram por
falta da moça, porque a velha pôs em lugar dela a sua filha, que era um monstro
de feia.
Quando
os navios largaram e se fizeram ao largo, a velha foi ao poço, tirou a moça
para fora, cortou-lhe os cabelos, furou-lhe os olhos, e botou-a num caixão e
atirou no mar.
Foi
o caixão parar ao reino primeiro que os navios. Um pescador o achou e levou
para casa, e, julgando ter dinheiro, pôs-se a gabar-se, dizendo que tinha
dinheiro para combater com o rei. Foi chamado o pescador e confessou ter achado
um caixão cheio de dinheiro, e foi um guarda do palácio para examinar o caso.
Aberto o caixão deram com a moça dentro, ficando todos penalizados com aquilo
por verem uma moça tão bonita com os olhos furados e os cabelos cortados.
Voltou
o guarda para palácio, conduzindo a moça. Quando lá chegou, já tinha também
chegado a comissão com a filha da velha. O almirante, muito triste, disse ao
rei: “Não fui como vim; fui alegre e volto triste; mas me sujeito à pena que
rei, meu senhor, me quiser dar.”
O
rei respondeu: “Nada tenho a fazer, senão casar-me com esta feia mulher, que me
chegou.” Houve o casamento, mas o rei se conservou sempre triste e vestido de
luto.
A
velha negou tudo e até desconheceu a sua própria filha. O rei. reconhecendo que
os traços da velha eram os mesmos da moça com quem se tinha casado, despediu
esta e mandou furar os olhos da velha e cortar-lhe os cabelos.
Logo
que isto fizeram, os olhos da moça, que foi achada no mar, tornaram a ficar
perfeitos e cresceram-lhe os cabelos. Houve então o novo casamento com a
rainha, que veio do mar, sendo nele jogada a velha.
gostei dessa historia
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