UMA PREMONIÇÃO SALVADORA - Narrativa Verídica Sobrenatural - Robert Dale Owen


 

UMA PREMONIÇÃO SALVADORA

Robert Dale Owen

(1801 – 1870)

Tradução de Paulo Soriano

 

Os que estão familiarizados com a história política do nosso país, nos últimos vinte anos, lembram-se bem do Dr. Linn, do Missouri. Sobressaindo não apenas pelo talento e capacidade profissional, mas sobremodo pela excelência do seu coração, recebeu, numa distinção tão rara quanto honrosa, o voto unânime do Legislativo para o cargo de Senador dos Estados Unidos.


 

Lewis F. Linn

 

No desempenho das suas funções no Congresso, residiu com a sua família em Washington durante a primavera e o verão de 1840, período que corresponde ao último ano da administração do Sr. Van Buren.

Certo dia, em maio daquele ano, o Dr. e a Sra. Linn receberam um convite para um grande e formal jantar, oferecido por um funcionário público, e para o qual foram convidados os membros mais proeminentes da Administração, incluindo o próprio Presidente e o atual Magistrado-Chefe, o Sr. Buchanan.

O Dr. Linn estava muito ansioso por fazer-se presente àquele evento. Todavia, quando chegou o dia, acometido de indigestão, implorou à sua esposa que se desculpasse pessoalmente e, deixando-o em casa, se fizesse presenta ao jantar.

Com relutância, ela consentiu. O seu amigo general Jones, que prometeu regressar e permanecer com o Dr. Linn durante a noite, acompanhou-a à porta do anfitrião.

À mesa, a Sra. Linn sentou-se ao lado do general Macomb, que a havia conduzido ao jantar; e, à sua frente, sentou-se Silas Wright, senador de Nova York, o amigo mais íntimo de seu marido, cuja morte, pouco depois desse acontecimento, causou uma perda irreparável à nação. Mesmo durante a primeira parte do jantar, a Sra. Linn sentiu-se muito desconfortável: preocupava-se com o marido, embora soubesse que a indisposição não era de todo grave. Mencionou aquela inquietação ao general Macomb, mas este recordou-lhe o que ela mesma lhe dissera anteriormente: o General Jones prometera ficar com o Dr. Linn e que, na improvável contingência de qualquer mal súbito, ele não deixaria de informá-la do ocorrido.

Apesar do que ouvira, à medida que o jantar terminava, aquela inexplicável inquietação ampliou-se a um impulso tão incontrolável — o de regressar a casa — que, como ela me disse, sentiu que não podia ficar ali nem mais um segundo.

O senador Wright apercebeu-se da sua súbita palidez e ficou alarmado.

—Estou certo de que estás doente, Sra. Linn — disse ele — O que se passa?

Ela respondeu que estava muito bem, mas que tinha de voltar para o marido.

O Sr. Wright procurou, como o fizera general Macomb, acalmá-la de seus temores. Ela, contudo, respondeu-lhe:

—Se me queres fazer um favor, pelo qual te ficarei grata enquanto viver, dá uma desculpa ao nosso anfitrião, para que possamos sair da mesa.

Vendo-a tão transtornada, o Sr. Wright atendeu-lhe o pedido, malgrado estivessem apenas servindo a sobremesa. Ele a esposa acompanharam a Sra. Linn até a casa. Quando dela se despediam, à porta dos seus aposentos, o senador Wright disse:

— Amanhã de manhã irei visitar-te, e rir-me-ei com o médico e contigo de tuas apreensões e pânico.

Quando a Sra. Linn subiu apressadamente as escadas, encontrou a proprietária.

— Como está o Dr. Linn? — perguntou ela, ansiosa.

—Muito bem, creio eu — foi a resposta. —Ele tomou banho há mais de uma hora e atrevo-me a dizer que a esta hora já está dormindo profundamente. Disse-me o general Jones que ele passava muito bem.

— O general está com ele, não é verdade?

— Creio que não. Acho que o vi sair há cerca de meia hora.

 Um pouco mais tranquila, a Sra. Linn apressou-se a ir ao quarto do marido, cuja porta estava fechada. Ao abri-la, uma densa fumaça irrompeu sobre ela, num volume tão sufocante que a fez cambalear e cair na soleira.

Recuperando-se após alguns segundos, ela correu ao quarto. O travesseiro de penas ardia com um brilho intenso e expelia um odor sufocante. Ela atirou-se à cama; mas o fogo, até então meio abafado, foi atiçado pela corrente de ar da porta aberta e, acendendo-se subitamente, apanhou o seu leve vestido, que ficou em chamas no mesmo instante.

Então, o seu olhar fixou-se na grande banheira que havia sido usada pelo marido. Saltou dentro dela, apagando o vestido em chamas; depois, voltando à cama, apanhou o travesseiro e um lençol, que ardiam em chamas — queimando os braços ao fazê-lo — e os mergulhou na água.

Por fim, com toda a sua força, retirou da cama o marido insensível. Foi só então que ela pediu ajuda às pessoas da casa.

O Dr. Sewell foi imediatamente chamado. Passou-se meia hora, todavia, a que o doente desse qualquer sinal vida, voltando a animar-se. Não saiu da cama durante quase uma semana e só após três meses recuperou-se completamente das consequências do acidente.

—Que sorte — disse o Dr. Sewell à Sra. Linn — que a senhora tenha chegado no preciso momento em que de fato chegou! Mais cinco minutos — ou melhor, três minutos —, e, com toda a probabilidade humana, nunca mais teria visto o seu marido vivo.

O Sr. Wright, como prometera, chegou na manhã seguinte.

— Bem, senhora — disse ele, sorrindo —, já descobriste, a esta altura, o quão era tolo aquele estranho pressentimento teu.

—Vem cá acima — respondeu ela.

E conduziu-o ao seu amigo, que mal conseguia falar. Em seguida, mostrou-lhe os restos do travesseiro, meio consumido, e a roupa de cama, parcialmente queimada.

Não sei se a visão mudou a opinião do Sr. Wright sobre a questão dos pressentimentos; mas ele ficou pálido como um cadáver (disse-me a Sra. Linn) e não disse uma palavra.

Recebi todos os pormenores acima narrados da própria Sra. Linn, bem como a sua autorização para os publicar como ilustração do assunto de que ora trato, atestado por data e nomes.

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