A VINGANÇA DA CAVEIRA CANTANTE - Conto de Terror - Narrativa Tradicional Japonesa
A
VINGANÇA DA CAVEIRA CANTANTE
Conto
tradicional japonês
Dois
mercadores voltavam para casa, após uma longa jornada de comércio.
Um
deles tivera um êxito extraordinário em suas atividades mercantis; assim, tendo
vendido toda a sua mercadoria, voltava para casa com muito dinheiro e maior
lucro; o outro, arruinado, retornava de mãos vazias.
Porque
o fracasso o levara à bancarrota, o malsucedido mercador tomou uma medida
extrema: matou o colega exitoso, despojando-o do imenso lucro. Com o haver de seu hediondo latrocínio, o facínora
descansou por três anos, mergulhado numa vida de luxo e ostentação.
Certa
feita, ao passar pelo lugar onde havia matado o colega, o antigo mercador viu
uma caveira cantando lindamente.
Diante
do ineditismo da cena, cuidou de perguntar à caveira:
—
Cantas a qualquer hora e em qualquer lugar?
—
Com a minha linda voz, canto, sim! — respondeu a caveira.
Imaginando
que poderia ganhar dinheiro em abundância com aquele inusitado — conquanto
macabro — instrumento musical, o mercador, que já havia despendido toda a
fortuna roubada, imaginou que poderia levar a caveira à casa do mais ricos
feudos da região, certo de que se tornaria novamente rico.
Foi
o que fez.
O
senhor feudal, a quem primeiro procurara, ao ouvir a proposta absurda do
mercador, disse-lhe:
—
Pagar-lhe-ei um grande pote de outro, repleto de pedras preciosas, se a caveira
cantar; caso contrário, corto-lhe um braço.
O
mercador, ciente dos talentos excepcionais do crânio cantante, não anuiu
prontamente. Aliás, fez uma contraproposta:
—
Se o crânio cantar, ficarei com toda a sua riqueza; se ela emudecer, poderás
cortar-me a cabeça.
E
assim foi estabelecida a avença.
Todavia,
a caveira, no dia da apresentação, nada cantou, por mais que o comerciante, aos
desesperos, a exortasse a fazê-lo.
O
rico e poderoso suserano, sentindo-se enganado, ao extremo com aborrecido com aquele
fracasso, prontamente mandou cortar a cabeça do mercador.
Assim
que a cabeça do malogrado mercador caiu ao chão, a caveira se pôs a cantar,
deixando escapar entre os dentes uma alegre melodia, que dizia:
—
Eis que o meu desejo se tornou realidade!
Com
sucesso, o crânio havia se vingado de uma morte ocorrida há um triênio.
Versão em português/adaptação
de Paulo Soriano.
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