AS CRUELDADES DE GUILLAUME TALVAS, SENHOR DE BELLÊME - Narrativa Clássica Cruel - Guillaume de Jumiège


 

AS CRUELDADES DE GUILLAUME TALVAS, SENHOR DE BELLÊME

Guillaume de Jumiège

(Séc. XI)



Depois que o seu irmão Robert foi morto, a golpes de machado, na prisão, Guillaume Talvas recuperou todas as terras do seu pai com a ajuda dos seus vassalos, dentre eles Guillaume, filho de Giroie.

Ora, este Talvas em nada se desviou dos exemplos dados pelos seus criminosos familiares e casou-se com Hildeburge, filha de Arnoul — um homem muito nobre —, e desta mulher teve um filho, Arnoul, e uma filha, Mabille, que posteriormente se tornou a mãe de uma prole muito perversa.

Mas como Hildeburge tinha bons sentimentos e amava fervorosamente a Deus, não podia participar das maldades do marido e, por isso, este desenvolveu por ela um ódio violento.

Por fim, numa manhã, quando se dirigia à igreja para rezar a Deus, Guillaume subitamente a fez estrangular, no caminho, por dois de seus comparsas cortesãos.

Em seguida Guillaume, desposou a filha de Haoul, visconde de Beaumont, e convidou para o seu casamento vários senhores vizinhos, entre os quais Guillaume, filho de Giroie, um homem de grande valor.





Ora, o irmão deste último, Raoul — apelidado de Clérigo, porque era versado no estudo das letras, e de Mâle-Couronne, porque, tendo-se dedicado aos exercícios de cavalaria, não guardava a gravidade do ofício clerical —, prognosticando que um grande infortúnio ameaçava o irmão, exortou-o vivamente a não ir ao casamento vergonhoso daquele bígamo feroz. Todavia, Guillaume, desprezando o conselho do irmão, partiu desarmado para Alençon, com doze cavaleiros, já que não temia nenhum mal; antes se regozijava, conforme o costume, com o casamento do amigo.

Talvas, todavia, não tardou a apoderar-se de Guillaume, como se este fosse um vilão. Depois, os seus comparsas, a quem tinha dado as ordens em segredo, conduziram Guillaume para fora do castelo e, entre as lágrimas de todos os que assistiram ao espetáculo — oh, o quão é triste dizê-lo! —, arrancaram-lhe os olhos e mutilaram-no vergonhosamente, cortando-lhe a ponta do nariz e as orelhas1.

Ao saberem deste crime, muitos homens ficaram furiosos, inflamados de ódio por Talvas, e concentraram todos os esforços para punir aquele crime.

Três anos depois, Guillaume de Giroie foi ter com o venerável abade Herluin e tornou-se monge no mosteiro de Le Bec, que o abade então construía em honra de Santa Maria Mãe de Deus.



Versão em português de Paulo Soriano a partir da tradução francesa (Histoire des Ducs de Normandie) de M. Guizot, 1826.


Imagens: PS/Copilot.


Nota:

1Segundo Orderic Vital, monge do séc. XI, Guillaume de Giroie foi, igualmente, castrado na ocasião.

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