A MÁSCARA DA MORTE ESCARLATE Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) Tradução de José Jaeger Havia muito tempo que a “Morte Escarlate” devastava todo o país. Jamais uma peste fora tão letal e tão terrível. O sangue era a sua encarnação e o seu sinete: o vermelho e o horror do sangue. Começava com dores agudas, com um desvanecimento súbito, e logo os poros se punham a sangrar abundantemente. Sobrevinha, então, a decomposição. Manchas escarlates no corpo e, notadamente, no rosto da vítima, segregavam-na da humanidade e a afastavam de todo socorro e de toda compaixão. O contágio, o progresso e o fim da enfermidade consumiam apenas meia hora. Mas o Príncipe Próspero era feliz, intrépido e sagaz. Quando os seus domínios minguaram à metade de almas vivas, convocou um milhar de amigos fortes e de corações alegres, escolhidos entre os cavalheiros e damas da sua corte. E, com eles, formou um refúgio recôndito em uma de suas abadias fortificadas. Tratava-se de uma vasta
O RETRATO OVAL Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) O castelo onde o meu criado achara por bem penetrar à força, em vez de me condenar, deploravelmente ferido como eu estava, a passar uma noite ao relento, era uma dessas construções, misto de grandeza e de melancolia, que por longo tempo ergueram a sua fronte orgulhosa no meio dos Apeninos, tanto na realidade como na imaginação da Sra. Radcliffe. Segundo toda a aparência, tinha sido temporária e recentemente abandonado. Instalamo-nos numa das dependências menos amplas e menos suntuosamente mobiladas, situada numa torre afastada do edifício. A sua decoração era rica, mas antiquada e em ruínas. As paredes, ornamentadas com numerosos troféus heráldicos de todas as formas, eram cobertas de tapeçarias, assim como de uma coleção prodigiosa de pinturas modernas, de grande estilo, em ricas molduras de ouro ao gosto arabesco. Tomei profundo interesse — talvez fosse o meu delírio a causa disso — por esses quadros, suspensos não só
NO CAMPO DE OLIVEIRAS Guy de Maupassant (1850 – 1893) Tradução de autor anônimo do séc. XX I Quando os homens do porto, do pequeno porto provençal de Garandou, ao fundo da Baía Pisca, entre Marselha e Toulon, divisaram a embarcação do padre Vilbois, que voltava da pesca, desceram à praia para ajudá-lo a puxar o barco. O padre era o ocupante único e remava como verdadeiro marujo, com uma energia difícil de encontrar aos cinquenta anos. De mangas enroladas nos braços musculosos, a sotaina arregaçada e presa entre os joelhos, meio desabotoada no peito, o tricórnio no banco ao lado, na cabeça um chapéu coco de cortiça recoberta de tela branca, ele tinha a aparência de um robusto e extravagante sacerdote dos países tropicais, feito muito mais para correr aventuras do que para dizer missas. De tempos a tempos, olhava para a retaguarda a fim de reconhecer o ancoradouro, depois recomeçava a remar, de modo ritmado, metódico e forte, para mostrar uma vez mais àqueles rele
O CORAÇÃO DELATOR Edgar Allan Pöe (1809 – 1849) Tradução de S. de M. (Séc. XIX) Sim! Sou muito nervoso, terrivelmente nervoso, mesmo ― e sempre o fui; mas por que me supõem louco? A doença tornou mais aguçados os meus sentidos ― não os destruiu, não os embotou. Mais do que os outros, tenho uma audição aguçadíssima. Ouço admiravelmente bem todos os sons produzidos no céu e na terra. Tenho ouvido até muitas coisas do inferno. Como posso, pois, ser um louco? Atenção! Reparem bem com que perfeita lucidez, com que tranquilidade de espírito eu vou contar-lhes toda a história. Ser-me-ia completamente impossível dizer-lhes como primitivamente a ideia entrou no meu cérebro; mas, uma vez concebida, nunca mais me abandonou, noite e dia. Fim, não tinha algum. A paixão foi estranha ao caso, por completo. Eu estimava deveras o pobre velho, que nunca me fizera o menor mal, que nunca me insultara. Nem mesmo invejava o seu dinheiro. Creio que foi o seu olho! Sim foi isso, decerto! Um d
Curtinho e muito bom.👏👏
ResponderExcluirMuito obrigado!
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