O PERIGO DAS PROFECIAS - Conto Clássico de Cruel - Humberto de Campos
O PERIGO DAS
PROFECIAS
Humberto de
Campos
(1886 – 1934)
Quando se divulgou pela cidade a notícia de que
Alexandre da Gama assassinara a mulher com sete punhaladas, ninguém atinou com
o motivo daquele crime. Sabia-se, apenas, que os dois haviam passado a tarde
fora de casa, e que, na volta, se haviam empenhado numa discussão, que terminou
naquela desgraça.
Um repórter conseguiu, porém, descobrir tudo.
Supersticiosos os dois, tinham o Alexandre e a esposa convencionado procurar
uma cartomante, para sondarem o poço misterioso do seu destino.
— Toma: leva dez mil réis para a consulta — dissera
o Alexandre.
E metendo,
por seu turno, dez mil réis no bolso do colete, ganhara a rua, combinando um
encontro às seis em ponto, em frente à casa da bruxa. À hora aprazada
encontraram-se.
— Que te
disse ela? — indagou o rapaz, ansioso.
— Boas coisas — informou a Rosita.
— Disse-te que ias ter filhos?
— Disse.
— Quantos?
— Três.
— Como?
— Três — confirmou a rapariga.
O Alexandre
ficou vermelho.
— E como é —
rugiu — que ela me disse que eu só teria um?
Horas depois,
dava-se o crime.
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