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Mostrando postagens de outubro, 2024

O SONHO - Conto Clássico de Horror - O. Henry

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O SONHO 1 O. Henry (1862 – 1910) Tradução de Paulo Soriano Murrey teve um sonho. Tanto a psicologia quanto a ciência tateiam quando nos tentam explicar as estranhas aventuras de nosso ser imaterial quando vagamos pelo reino do “irmão gêmeo da Morte, o Sono”. Este relato não tem escopo esclarecedor. Limita-se a registrar o sonho de Murray. Uma das fases mais intrigantes dessa vigília do sono é que sonhos, que parecem abarcar meses — ou mesmo anos —, podem ocorrer em poucos segundos ou minutos. Na ala dos condenados à morte, Murray aguardava a execução. Um foco de luz elétrica, pendente do teto do corredor, incidia intensamente sobre a sua mesa. Numa folha de papel branco, uma formiga corria descontroladamente por aqui e ali, enquanto Murray bloqueava seu caminho com um envelope. A eletrocussão estava marcada para as oito horas da noite. Murray sorriu para as agitadas correrias do mais sábio dos insetos. Havia outros sete condenados no pavilhão. Desde que lá estava, Murray vira três...

A LENDA DA CAVIDADE DE SOLSE - Conto Clássico Lendário Sobrenatural - Gust van de Wall Perné

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A LENDA DA CAVIDADE DE SOLSE Gust van de Wall Perné (1877 – 1911) No meio de Veluwe — na floresta entre Garderen e Drie — situa-se a “Cavidade de Salse”, uma grande depressão entre colinas. Havia, outrora, um poderoso mosteiro, guarnecido de várias torres e circundado por um fosso. Uma estrada larga e imponente conduzia ao seu portão. Mas era um mosteiro maligno, pois o seu abade e os demais monges haviam vendido as suas almas ao diabo. Leva-se ali uma vida de excessos e luxo. À noite, em seu interior, celebrava-se a missa negra, da qual participavam todas as bruxas e fantasmas da região. Lá, as pessoas bebiam copiosamente o vinho e as suntuosas refeições eram servidas durante toda a noite. O diabo certificava-se de que o suprimento nunca acabasse e ele mesmo preparava o vinho. Dançava-se, cantava-se e praguejava-se até a alvorada. Muitos ouviam os ruídos estranhos e aterrorizantes que, à noite, vibravam no interior do mosteiro, e todos sabiam que as janelas de todos os sal...

SÃO COLUMBA E O MONSTRO DO RIO NESS - Narrativa Clássica de Horror - Adomnano de Iona

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SÃO COLUMBA E O MONSTRO DO RIO NESS Adomnano de Iona (c. 627 – 704) Noutra ocasião, quando estava há alguns dias na província dos pictos, o bem-aventurado São Columba teve que atravessar o rio Ness 1 . Chegando à margem, viu que alguns dos habitantes enterravam um infeliz que, conforme o relato daqueles que o sepultavam, fora, há pouco, enquanto nadava, agarrado e severamente mordido por um monstro que vivia na água. O seu corpo miserável foi, embora tarde demais, retirado com um anzol por aqueles que vieram, num barco, em seu auxílio. Ao ouvir isto, o bem-aventurado não ficou minimamente desanimado. A um de seus companheiros ordenou nadasse e trouxesse um barco que estava atracado na margem oposta. Ouvindo a ordem do boníssimo homem, Lugne Mocumin obedeceu a ela sem a menor demora; despiu-se de todas as suas roupas — exceto a túnica — e lançou-se n’água. Sucede que, longe de estar saciado, o monstro, estendido no fundo do riacho, aguardava novas presas. Assim, quand...

AVISO ESPECTRAL - Narrativa Verídica Sobrenatural - Eugenia Wickham

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AVISO ESPECTRAL Eugenia Wickham (Séc. XIX) M. B., filho de certa amiga minha e oficial nos highlanders , fora gravemente ferido num joelho na batalha de Tel-el-Kebir. Sua mãe, quando o navio-hospital Le Carthage o conduziu a Malta, pediu-me que eu fosse a bordo para vê-lo e que tomasse as providências necessárias ao seu retorno à terra. Mal cheguei a bordo, disseram-me que M. B. era um dos oficiais mais gravemente feridos. Assim, considerando-se perigosa a sua condução ao hospital militar, ele e ainda um outro oficial ficariam no próprio navio. Após muitas instâncias, o que se pôde obter foi que eu e sua mãe o visitássemos e tratássemos dele. O pobre rapaz estava tão mal que os médicos julgavam que a amputação da perna — coisa única que o poderia salvar se fosse levada a efeito com êxito — era uma operação que lhe produziria a morte. A perna se lhe gangrenava, mas certas partes se iam eliminando e, como se passassem longos dias em que ele ora se apresentava pior, ora melhor, o...

BREVES NOTÍCIAS (Verdadeiras e Macabras) - Breves Narrativas Verídicas Cruéis - Félix Fénéon

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BREVES NOTÍCIAS (Verdadeiras e Macabras) Félix Fénéon (1861 – 1944) Tradução de Paulo Soriano ÚLTIMO DESEJO O marinheiro Renaud suicidou-se em Toulon com a sua amante. Seu último desejo: o mesmo caixão, ou, pelo menos, a mesma sepultura. OSSOS Ossos foram descobertos em uma residência na Île Verte, nas proximidades de Grenoble. A Sra. P. confessou que eram os restos mortais de seus filhos ilegítimos. OSSOS II Os ossos encontrados na Île Verte, em Grenoble, constituem-se não em dois, mas em quatro esqueletos de criancinhas, menos dois crânios. ENGANO Um lavador de pratos de Nancy, Vital Frérotte, que voltou de Lourdes para sempre curado da tuberculose, morreu no domingo por engano. DESCOBERTA Enquanto escavava a terra, junto a uma árvore, no Bois de Boulogne, um cão descobriu o cadáver de um menino recém-nascido. RECONCILIAÇÃO FRACASSADA Reconciliar-se com Artémise Rétro, de Les Lilas, era o desejo do terno Jean Voul. Ela ...

O MÁRTIR - Conto Clássico Cruel - Gabriele d’Annunzio

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O MÁRTIR Gabriele d’Annunzio (1863 – 1938) Tradução de autor anônimo do séc. XIX Ao cair da tarde, o lugre Trinità, com carga de trigo, levantou âncora com destino à Dalmácia. O navio desceu o rio tranquilo, por entre as barcas de Ortona, ancoradas em fileira, enquanto as luzes se acendiam em terra e os marinheiros cantavam de volta ao porto. Depois de ter atravessado lentamente a estreita embocadura, o lugre alcançou o Adriático. O tempo era bonançoso. Num céu de outubro, a Lua cheia, quase à flor da água, era como lâmpada suspensa lançando uma claridade doce e rósea. Para trás, as montanhas e as colinas tomavam atitudes de mulheres deitadas. Voos de gaivotas passavam silenciosos no alto e desapareciam. Primeiramente, os seis marinheiros e o grumete manobraram de maneira a apanhar o vento de feição. Depois, logo que a brisa enfunou as velas tintas de vermelho e ornadas de figuras toscas, os seis homens sentaram-se e começaram a fumar tranquilamente. O grumete, a cavalo na proa...