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Mostrando postagens de 2019

O GAROTO ATORMENTADO POR DEMÔNIOS - Narrativa Clássica de Terror - Antonio de Torquemada

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O GAROTO ARTORMENTADO POR DEMÔNIOS Antonio de Torquemada (c. 1507 – 1569) Vemos muitas vezes que os demônios existem para atormentar e extenuar os homens, não somente causando-lhe grande danos, senão também trazendo-lhes a morte, e de duas coisas, que eu sei muito bem notórias, uma vos quero dar por exemplo. Na vila onde eu nasci e me criei, havia um homem honrado e letrado, o qual tinha dois filhos, um dos quais poderia ter doze ou treze anos.   O garoto fez uma travessura que irritou a sua mãe de uma tal maneira que esta começou a oferecê-lo e encomendá-lo muitas vezes ao Demônio, desejando que levasse o filho consigo. Isto aconteceu à dez da noite, que se fazia muito escura. E como a mãe não se cansava de proferir aquelas maldições, o garoto, com medo, correu ao curral da casa e ali desapareceu. E sumiu de um modo que, ainda que o procurassem com todo cuidado, não o puderam achar. E disto ficaram os pais muito admirados, porque as portas estavam cerradas e não h

ESPECTROS PERVERSOS - Narrativa Clássica de Terror - Augustin Calmet

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ESPECTROS PERVERSOS Augustin Calmet (1672 – 1757) Conta Carl Ferdinand von Schertz, em sua obra intitulada Magia Posthuma , que, numa certa aldeia, uma mulher veio a falecer após receber os santos sacramentos, havendo sido sepultada da forma habitual. Quatro dias após o seu falecimento, os moradores do vilarejo   ouviram um grande ruído e uma extraordinária algazarra, e viram um fantasma que se manifestava tanto sob a forma de cão quanto sob a de homem, e não aparecia a apenas uma pessoa, senão a várias,   causando a estas grande aflição, apertando-lhes a garganta e comprimindo-lhes o estômago, de modo a sufocá-las. Machucava-lhes quase todo o corpo e as reduzias à extrema fraqueza para que ficassem lívidas, magras e extenuadas.   O espectro também atacava animais, e algumas vacas foram encontradas debilitadas e semimortas, às vezes amarradas entre si pelo rabo. Com seus mugidos, os animais expressavam a dor que sentiam. Viam-se cavalos vergados pelo cansaço, suando sob

LANÇAMENTO DA EDITORA MONDRONGO: NARRATIVAS FANTÁSTICAS DO MALLEUS MALEFICARUM

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Autorizados pelo papa Inocêncio VIII, os inquisidores dominicanos Heinrich Kramer (c. 1430 – 1505) e Jakob Sprenger (1435 – 1495) publicaram, em 1487, o mais completo e conhecido tratado sobre bruxaria, o Malleus Maleficarum . Este livro, também conhecido como O Martelo das Feiticeiras (ou das Bruxas ), se tornou o mais importante manual de caça às bruxas da Inquisição católica.  Com lastro em suas lições teológicas e orientações jurídicas, mais de cem mil pessoas foram levadas à morte cruel, pelo garrote e pela fogueira, nos quatro séculos que se seguiram à sua publicação. Para ilustrar as suas canhestras doutrinas teológicas, os inquisidores Kramer e Sprenger recorreram a fatos exemplares, que reputavam verdadeiros, por mais absurdos e inverossímeis que, hoje, nos possam parecer. Neles, as bruxas, orientadas por demônios, detinham o mágico poder de causar os mais abjetos malefícios: arruinar colheitas, destruir reses, convolar homens em bestas, impedir a procriação humana e

A RESSURRECTA DE COLÔNIA - Conto Clássico de Horror - Alfred von Reumont

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A RESSURRECTA DE COLÔNIA Alfred von Reumont [1] (1808 – 1887) O Reno, em todo o seu curso, é pela imaginação popular povoado de entes sobrenaturais, e as suas margens havidas por cenas de sucessos maravilhosos, versões ou texto de outros análogos que em todos os tempos e em todos os povos mereceram credulidade. Entre muitos livros que existem, contando vários acontecimentos, há um, nítido e adornado de belas gravuras em aço, intitulado Legendes des bords du Rhin , e em que se acha a compilação dessas histórias de prodígios e aventuras. Dela extraímos seguinte para exemplo. No ano de 1400 era Colônia assolada pelo contagio voraz e rápido que ceifava inumeráveis vidas, crescendo a tão subido numero a mortandade, que não havia lugar nem tempo para as honras fúnebres, sendo os cadáveres arremessados a montões para valas amplíssimas. Vivia então em Neumarkt uma senhora mui respeitável, casada com um fidalgo dos mais ricos daquele departamento. Caiu enferma, e em brev

O LOBISOMEM - Conto Clássico Fantástico - Maria de França

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O LOBISOMEM Maria de França (c. 1160 – 1210) Existia em Bretanha um barão do qual sempre ouvi dizer bem. Era um formoso cavalheiro, nobre em todas as suas ações, prezado pelo rei, e respeitado por todos os seus vizinhos. Tinha ele casado com uma jovem de família ilustre, e que parecia dotada de excelentes qualidades; amavam-se reciprocamente; mas o que inquietava grandemente a dama era ausentar-se o marido três dias inteiros por semana sem que ela pudesse descobrir qual fosse o motivo de tal ausência. Um dia, entrando o barão em casa mais alegre do que costumava, resolveu ela aproveitar-se desta boa disposição e lhe disse: —Senhor, há uma cousa que vos desejo perguntar, mas temo que vos ofendais da minha curiosidade. —Falai, senhora — respondeu o barão. -- Vós me animais — tornou ela — e por essa razão devo comunicar-vos que é tal a minha aflição nos dias em que costumais estar ausente, tal o susto que tenho de perder-vos, que, senão me tranquilizais, depr

A CAVEIRA DE D. LEONOR - Conto Clássico de Horror - Escritor anônimo do século XIX

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A CAVEIRA DE D. LEONOR Anônimo do séc. XIX Faz alguns anos que fui convidado por um amigo a passar uns dias fora da cidade. Aproveitei alguns dias santos e fui. No primeiro dia de guarda que tivemos, depois de tomar logo ao nascer do Sol a mais bela e aromática xícara de café que jamais foi feita por mãos de anéis, depois de ir admirar uma linda queda d'água que ficava a algumas braças distante da casa, depois de dar algumas voltas no mais frondoso e florido laranjal, depois, enfim, de muito vaguear, muito meditar, muito conversar, almoçamos um desses almoços que não conhecem os nossos gastrônomos da cidade, acostumados a pratinhos e guisadinhos, mas que conhecem os nossos abastados fazendeiros: almoço que bastara para o jantar de um regular convento de frades. Estavam os cavalos prontos, de modo que, acabado almoço, cavalgamos, e lá fomos diretos à freguesia para ouvir missa. Na sacristia encontramos o vigário, homem de cinquenta anos, com uma destas fisionomias aust

O HOMEM DA PERNA MECÂNICA - Conto Clássico Fantástico - Carl Groder

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O HOMEM DA PERNA MECÂNICA Carl Groder (Séc. XIX) Tradução de Th. I. Quem já esteve em Roterdã há de infalivelmente lembrar-se de uma casa de dois andares, sita no subúrbio, e contígua à baía do canal que corre entre esta cidade e as de Haia, Leida e outras. Digo que há de infalivelmente lembrar-se, porque de necessidade devem ter-lhe mostrado, em razão de haver sido habitada em outro tempo pelo mais engenhoso artista que a Holanda tem produzido, sem falar da sua filha, a mais linda rapariga de quantas tem nascido no recinto de um solar holandês. Desgraçadamente, não é com a formosa Branca que temos agora de ocupar-nos, senão com o velho cavalheiro seu pai. Sua profissão era de fazer instrumentos cirúrgicos; mas a fama que havia adquirido nasceu principalmente de sua pasmosa habilidade em fabricar pernas de pau e de cortiça. Sua reputação era tamanha neste ramo de ciência humana, que aqueles que a natureza tinha ludibriado ou o acaso mesmo, negando-lhes ou arruin

O DIABO EM PARIS - Conto Humorístico de Horror - Escritor anônimo do século XIX

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O DIABO EM PARIS Anônimo do séc. XIX Chegando pelo Carnaval a Paris, um jovem provinciano acomodou-se em uma das hospedarias principais. Querendo tomar parte no divertimento dos mascarados, logo que anoiteceu saiu da hospedaria e foi comprar máscara e vestuário correspondente à figura do diabo. Vestindo-se na loja em que tais objeto se vendiam, saiu para o baile do mais próximo teatro, onde se divertiu até as três horas da madrugada, e então regressou à hospedaria sem se lembrar da figura que fazia. Chegou à porta e bateu. Veio uma criada sabor quem era. Porém, assim que viu o hóspede, deitou a fugir assustadíssima, de maneira que não foi possível conseguir que se abrisse a porta. O provinciano, apertado pelo frio, foi rua abaixo, e, vendo uma porta aberta e luz na sala, entrou. Estava no meio da sala um defunto circundado de tochas acesas, e um clérigo assentado em uma cadeira com um rapazinho a seu lado, dormindo ambos ao calor de um braseiro que tinham diante d

O SUPLÍCIO DE ROBESPIERRE - Narrativa Verídica de Horror - François-Joseph-Michel Noël e Joseph Planche

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O SUPLÍCIO DE ROBESPIERRE François-Joseph-Michel Noël (1756 – 1841) e Joseph Planche (1762 – 1853) Robespierre, após receber o tiro de pistola que lhe esmigalhou a face, caiu banhado de sangue. Levantaram-no e o puseram numa poltrona de couro vermelho. Porque teve maxilar deslocado, foi necessário ajustá-lo à mandíbula superior com o emprego de uma faixa, que lhe sustinha o queixo, e cujas  extremidades foram atadas sobre a sua cabeça. Foi neste estado que, às seis horas da manhã, o conduziram ao Comitê de Segurança Geral, onde o deitaram sobre uma mesa. Tinha o semblante pálido e a cabeça rachada. Vertia sangue pelos olhos, narinas e boca. Alvo, por muitas horas, de insultos e reproches pelos circunstantes, ele parecia suportar, com paciência, tais ultrajes. Queixa alguma escapou de sua boca. E não respondeu a qualquer pergunta feita por seus confrades. Ele foi, então, levado ao Tribunal Revolucionário, acompanhado de seus cúmplices, para ser identificado. Iam com