O QUARTO ASSOMBRADO - Conto Clássico de Mistério - Joseph Taylor
O
QUARTO ASSOMBRADO
Joseph Taylor
(Séc. XIX)
Um jovem cavalheiro viajou
de Londres para o Oeste da Inglaterra para visitar um mui digno gentil-homem,
de quem tinha a honra de ser parente.
Sucede que a casa do
cavalheiro estava, naquela época, mito cheia, por conta do casamento de um
parente, que ultimamente ali vivia.
O senhor da casa, portanto,
disse ao jovem visitante que estava muito feliz em vê-lo, e que ele era muito
bem-vindo.
— Mas — disse ele — não sei o
que fazer para alojá-lo. Por causa do casamento de meu primo, não restou um
quarto livre na casa, exceto um. O quarto remanescente é, todavia, assombrado.
Mas, se você quiser deitar-se lá, encontrará uma cama muito confortável e todas
as outras comodidades de que precisa.
— O senhor — respondeu o
jovem cavalheiro — muito me apraz deixando-me dormir em tal quarto, pois muitas
vezes cobicei estar em um lugar assombrado.
O cavalheiro, muito
contente porque o seu parente estava deveras satisfeito com suas acomodações,
ordenou que o quarto fosse preparado e, sendo inverno, mandou que lhe
acendessem a lareira.
Quando chegou a hora de
dormir, o jovem cavalheiro foi conduzido ao seu quarto, o qual, além de uma boa
lareira, estava equipado com todas as acomodações adequadas; e, tendo-se
recomendado à proteção divina,
foi deitar-se.
Ficou algum tempo acordado e,
sem ser perturbado, adormeceu. Contudo, foi despertado por volta das três horas
da manhã: a porta se abriu e alguém nele penetrou. Era a aparição de uma jovem,
com uma camisola que lhe cobria a cabeça e lhe caía sobre os ombros. Mas ele
não tinha uma visão perfeita de quem entrara, pois a vela estava apagada. E,
malgrado houvesse lume no quarto, ainda assim a lareira não irradiava luz
suficiente para vê-la claramente. Mas a visitante desconhecida foi até a
chaminé, pegou o atiçador e avivou o fogo. A luz flamejante permitiu que ele discernisse,
mais claramente, a silhueta de uma jovem dama. Contudo, se era uma pessoa em
carne osso ou um fantasma etéreo, ele não sabia dizer.
A aparição, tendo permanecido
algum tempo diante do fogo, como se para se aquecer, caminhou, por fim,
duas ou três vezes pelo quarto e, depois, foi postar-se ao lado do leito. Tendo ali parado um instante, tomou uns
lençóis e foi para a cama, onde se deitou e, cobrindo-se, lá permaneceu muito
quieta.
O jovem cavalheiro
ficou um tanto surpreso com aquela companheira de leito desconhecida. E, quando
ela se aproximou, cuidou de deitar-se do outro lado da cama, sem saber se era
melhor levantar-se ou não.
Por fim, permanecendo muto
quieto, percebeu que sua companheira de cama respirava. Assim, supondo que ela
fosse de carne e osso, achegou-se mais perto dela. Tomando-a pela mão, e
achando-a tépida, concluiu que a jovem não era um fantasma etéreo, mas um ente
substancial, de carne e osso. E, notando que ela tinha um anel no dedo,
ele o tirou sem ser percebido. Entrementes, a dama dormia, e ele deixou que ela
assim continuasse. E, sem incomodá-la, esperou pacientemente o desfecho daquela
singular situação.
Mas não ficou muito tempo em
suspense, pois a sua bela companheira livrou-se apressadamente dos lençóis, e,
levantando-se, caminhou três ou quatro vezes pelo quarto, como fizera antes. Então,
parando um momento diante da porta, abriu-a, saiu e fechou-a atrás de si.
O jovem cavalheiro,
percebendo de que maneira o quarto era assombrado, levantou-se e trancou a
porta por dentro. Depois, voltou para a cama e dormiu até de manhã.
Quando o dono da casa o
procurou para saber como ele estava, e se ele tinha visto, ou não, alguma
coisa, respondeu-lhe que uma aparição se manifestara, mas pediu ao parente o
favor de que não o pressionasse a dizer mais nada, até que toda a família
estivesse reunida. O senhor atendeu ao seu pedido, dizendo ao jovem amigo
que, encontrando-o bem, estava perfeitamente satisfeito.
Ansiosa por saber do
ocorrido, toda a família tratou de se vestir com uma rapidez maior que a
costumeira, porquanto reunir-se-iam, em assembleia geral, os cavalheiros e as
damas, antes das onze horas, e todos queriam se apresentar convenientemente,
Quando todos se reuniram no
grande salão, o jovem cavalheiro disse que, antes de tudo, tinha um favor a
pedir às damas, declarando que desejava saber se alguma delas havia perdido um
anel.
A jovem dama, de cujo dedo o
anel foi tirado, depois de procurá-lo por toda a manhã, e sem saber como o
havia perdido, ficou feliz em ouvir o que o jovem dizia e, prontamente, admitiu
que perdera um anel.
O jovem cavalheiro perguntou,
entregando o anel em sua mão, se ela reconhecia como sua aquela joia, e, após
receber um agradecimento, voltou-se para o seu parente — o dono da casa —
dizendo-lhe:
— Agora, senhor — disse ele, tomando a moça
pela mão —, eu posso assegurar-lhe que este é o espírito encantador que
assombra o seu quarto.
Então, narrou o acontecido.
Não há palavras para
expressar a confusão que aquela narrativa causou na jovem dama, que se declarou
perfeitamente ignorante de tudo o que ele dissera. Mas acreditava que o
cavalheiro dizia a verdade, porque se lembrava perfeitamente de que usava o
anel quando foi deitar-se, e não sabia como o havia perdido.
A narrativa proporcionou a
todos uma grande diversão, pois, afinal, o pai declarou que, uma vez que
sua filha já tinha ido para a cama com seu parente, seria culpa sua se ele não
fosse para a cama com sua filha, de molde que estava disposto a entregá-la ao
jovem, e dar-lhe um bom dote. Esta oferta generosa era tão vantajosa para
o jovem cavalheiro que ele não poderia recusá-la de maneira alguma. E a
sua última companheira de leito, ouvindo o que seu pai havia dito, foi
facilmente persuadida a aceitá-lo como marido.
Bem pensado. O autor costura todo um caminho e então descostura tudo no final.
ResponderExcluirEu amei o conto achei muito bem pensado
ResponderExcluirNão gostei do desfecho.
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